Agentes socioeducativos que atuam em unidades da Fundação Casa na região de Ribeirão Preto (SP) denunciam agressões recorrentes por parte dos internos e reclamam de falta de segurança para trabalhar.
Quatro funcionários dizem ter sido agredidos em uma semana e dois acabaram afastados das funções devido aos ferimentos.
A direção regional da Fundação Casa em Ribeirão informa que houve intervenções de servidores durante confusões entre adolescentes nas unidades, mas nega a ocorrência das agressões.
O caso mais grave é de um servidor que diz ter levado vários socos no rosto depois de chamar a atenção de um menor durante a revista, após um curso de arte, em 8 de novembro, na unidade Candido Portinari. Ferido, ele foi internado em um hospital de Ribeirão.
No mesmo dia, um dos internos da unidade Rio Pardo jogou outro agente contra a parede, ao ser repreendido por uma postura inadequada. O trabalhador ficou com uma das mãos ferida e também foi hospitalizado. As informações são do sindicato da categoria, o Sintraemfa, e estão em termos circunstanciados registrados pelos servidores.
“A falta de trabalhadores dentro dos centros gera muita instabilidade. Não é só em Ribeirão, na capital também percebemos esse tipo de problema. Todo mundo está sem estrutura para trabalhar”, diz o diretor do Sintraemfa, João Faustino Pereira.
Em 10 de novembro, outro trabalhador da unidade Rio Pardo registrou um boletim de ocorrência por ameaça e lesão corporal, após supostamente ser agredido por um interno de 16 anos, que foi repreendido por escrever nas paredes do corredor do refeitório.
Consta no registro da Polícia Civil que o menor agrediu o agente com socos na cabeça e no peito, além de chutes nas pernas. Outro funcionário e o coordenador da unidade precisaram intervir, e levaram o adolescente para outro módulo.
Em 14 de novembro, um servidor da Fundação Casa em Sertãozinho (SP) diz que foi jogado no chão e levou vários chutes de um jovem de 16 anos, quando tentou socorrer um dos coordenadores da unidade, que estava sendo agredido por outro interno, de 18 anos. Ele também registrou boletim de ocorrência.
A Polícia Civil informou que quatro dias antes o mesmo agente havia registrado queixa contra o interno, maior de idade, por ameaça. Consta no boletim de ocorrência que o jovem disse ao funcionário: “vai ver o que vai lhe acontecer quando eu sair daqui, pois sei onde o senhor mora”.
“O risco é muito grande, tanto internamente, quando externamente. Os funcionários são ameaçados na rua”, diz Pereira.
Medo
Um funcionário que prefere não ser identificado conta que já foi ameaçado e agredido diversas vezes dentro da unidade onde trabalha. O servidor diz que até os professores são atacados e reclama que a direção da Fundação Casa nunca faz nada para garantir a segurança dos trabalhadores.
“Os agentes estão de mãos atadas, não têm como fazer nada. A gente sofre ameaças de morte constantemente. Eles partem para cima até dos professores, nem mulher grávida eles respeitam. Nem todo adolescente infrator quer ter uma vida descente”, desabafa.
O agente também afirma que o número reduzido de servidores prejudica a segurança e revela que já chegou a supervisionar quase 50 menores com apenas mais um colega, durante um domingo, quando os internos são visitados pelas famílias.
“A gente não pode entrar na sala de aula e fica na porta monitorando. Eles ficam nas carteiras fazendo sinal com as mãos como se fossem metralhadoras, como se dissessem que vão nos matar. A gente é ameaçado de dia, de noite. É muito complicado trabalhar desse jeito”, diz.
Defasagem
O Sintraemfa estima que a defasagem de agentes chega a 40% do quadro total. Em algumas unidades, segundo o diretor, há quatro servidores para supervisionar 70 internos. O número pode ser maior, caso um dos trabalhadores seja destacado para acompanhar um interno ao Fórum, ou ao Pronto-Socorro, por exemplo.
“Isso acaba adoecendo muito o trabalhador. Se um funcionário teria que cuidar de cinco e cuida de 15, 20 menores, isso causa um transtorno psicológico muito grande. Os adolescentes estão muito mais estruturados do que antigamente”, afirma o diretor do Sindicato.
Fundação Casa
O diretor regional da Fundação Casa, João Rafael Mião, nega que tenham ocorrido agressões. Segundo ele, nas datas mencionadas na reportagem houve brigas entre adolescentes com intervenção de servidores, mas sem agressão entre internos e agentes. Ele também nega que funcionários tenham se ferido.
"A gente não compactua com situação de violência de forma alguma. As ocorrências que tiveram de intervenção de servidores foram encaminhadas para apuração da corregedoria e a atuação de cada adolescente foi avaliada pela comissão de avaliação disciplinar", diz.
O diretor também nega que haja defasagem de funcionários na Fundação Casa. "O que existe, às vezes, eventualmente, é um servidor que falta por atestado médico, que se afasta por motivo de saúde, mas a defasagem real não existe."
https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/quatro-agentes-sao-agredidos-em-uma-semana-por-internos-da-fundacao-casa-na-regiao-de-ribeirao-preto.ghtml