Falta de funcionários e influência de facções criminosas são apontadas como motivo para revolta e fuga de jovens
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| Agentes da Fundação Casa revelam rotina de agressões de adolescentes em unidades |
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‘Hoje na unidade onde eu trabalho, se tirar três que não apanharam é muito.
O resto está com o nariz quebrado. Quatro ou cinco estão com o nariz quebrado por causa de murro de adolescente na cara. Eu vou faze ruma cirurgia no ombro gravíssima. Fiquei refém de 45 adolescentes, quase arrancaram meu braço. E minha vida, como fica agora?’
Hélio teve a identidade preservada para esta reportagem. Ele é um agente socioeducativo que trabalha há nove anos em uma das unidades de internação no Estado. Está há duas semanas afastado do trabalho depois de ser agredido por internos.
‘O adolescente estava com celular no bolso e maconha. O nosso trabalho é intervir e tentar pegar. Estávamos em quatro funcionários e eles em 25 adolescentes. Todos escaparam e vieram pra cima. Tomei cadeirada nas costas, tive a cabeça cortada de pancada. E nós é que estamos errados ainda?’
A falta de segurança nas unidades faz com que os agentes acumulem funções. Na unidade de Hélio, apenas nove funcionários são responsáveis por 200 jovens infratores. É uma porta aberta para a entrada de drogas e celulares nas unidades.
‘A verdade é que eles conseguem ter um contato lá fora com outros ladrões. O muro é muito baixo. Eles jogam por cima da quadra, cai dentro do pátio, eles pegam drogas, celulares. Já conseguiram canivetes para ferir os agentes. Nós passamos a situação para a direção e eles não tomam providências, não anotam, não fazem Boletim de Ocorrência.’
Com o quadro desfalcado, a superlotação das unidades e a influência de facções criminosas, as fugas viraram rotina. Os adolescentes chegam a postar fotos em redes sociais, tiradas de dentro dos alojamentos.
‘Quando entrei na Fundação eu não via fuga. Não sabia o que era isso. Tinha disciplina, respeito. Hoje o jovem corta a grade, quebra os blocos, saem correndo, pulam por cima da quadra, saem correndo, fogem 30 ou 40. Depois vem a Corregedoria dizer que os funcionários estão facilitando as fugas. Como? Não tem como!’
A crise do sistema, segundo o Ministério Público, é geral. O promotor da Infância e Juventude, Thiago Toledo Rodrigues, reclama da ineficiência do governo. ‘Nós temos estruturas precárias, ineficientes, ultrapassadas, obsoletas, que necessitam de reforma. Nós temos uma quantidade de funcionários muito aquém do que seria necessário para atender os adolescentes. Nós temos adolescentes compartilhando material de higiene, dormindo em colchões no chão.’
Hélio prefere trabalhar em uma cadeia do que na Fundação Casa. ‘Se o governador me dissesse que iria trabalhar na Hortolândia (Complexo Penitenciário de Hortolândia) eu iria com muito orgulho, eu luto para passar em outro concurso. Eu jamais imaginei encontrar isso pela frente ali dentro. Somos tratados como bicho, sem nenhum respaldo.’
Na unidade de Hélio, seis funcionários estão afastados por problemas de saúde. O presidente do Sindicato dos Funcionários da Fundação Casa, Aldo Damião, revela que a pressão psicológica é diária. ‘Em Guarulhos outro dia nós não tivemos agressão física, mas tivemos uma pressão psicológica grande. Quatro funcionários foram feitos reféns, queimaram colchões na frente deles, ameaçaram jogá-los do telhado que um funcionário saiu de lá e não conseguia nem falar.’
A reportagem da CBN solicitou à Fundação Casa o número de servidores afastados por agressões de internos ou problemas psicológicos causados pelo trabalho. O governo não revelou os dados. O Ministério Público também aguarda o levantamento.
http://cbn.globoradio.globo.com/sao-paulo/2015/09/23/AGENTES-DA-FUNDACAO-CASA-REVELAM-ROTINA-DE-AGRESSOES-DE-ADOLESCENTES-EM-UNIDADES.htm
