Para o integrante do Condeca
(Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente) e
coordenador da Comissão da Infância e Juventude da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) São Bernardo, Ariel de Castro Alves, o número é
bastante expressivo. Para ele, as características econômicas e sociais
do Grande ABC podem influenciar os menores. “Nos últimos anos, a região,
que era industrial, passou a concentrar maior número de
estabelecimentos comerciais e, com o forte consumo da população, essa
tendência (de roubos) acaba se ampliando”, fala.
CAUSAS
O desejo de status dos adolescentes
também é um dos fatores apontados por Alves, que ganha reforço com a
propagação do estilo musical funk ostentação, no qual as letras abordam a
popularidade por meio de bens materiais. “O funk prega que o jovem tem
de ter carro importado, roupa de marca, então, esse tipo de música pode
ter uma certa influência, contribuindo para aumentar o desejo de consumo
dos jovens. Porém, a adolescência é o período em que a pessoa tem menos
condições financeiras e no qual mais quer ter bens, pois é diariamente
bombardeada pela publicidade.”
O advogado também pontua a marcação
cerrada da polícia em cima do crime organizado e o desejo de autonomia
como possíveis motivos para a migração do tráfico de drogas para a
modalidade do roubo. “O aumento do policiamento e a atuação maior da
polícia investigativa para combater o crime organizado acabam inibindo o
tráfico. Além disso, no roubo há certa autonomia, porque no caso do
tráfico, ele pertence a um grupo criminoso e não quer ficar subordinado,
obedecer ordens e correr riscos no caso de cometer erros.”
DROGAS
Já para o especialista em Segurança
Pública e Prisão Jorge Lordello, as drogas mantêm ligação com os
assaltos praticados por menores não só no Grande ABC, mas em todo o
Estado. “O que observamos é que tem muito garoto assaltando para comprar
entorpecentes. Muitas vezes, o jovem roubou um carro, mas a finalidade é
vender o bem para comprar drogas. O adolescente precisa de dinheiro
para manter o vício ou para comprar e revender. Uma coisa está
relacionada com a outra.”
Reduzir maioridade penal não é solução
Reduzir a maioridade penal não
resolve o problema do ingresso cada vez mais frequente dos adolescentes
no mundo do crime, de acordo com especialistas ouvidos pelo Diário.
A pauta está sendo discutida no Senado, que ainda precisa decidir se
aprova a proposta de emenda à Constituição (PEC 33/2012). O texto
estabelece punições diferenciadas para adolescentes de 16 anos a 18 anos
envolvidos em crimes graves.
Para o defensor público de Santo
André Marcelo Carneiro Novaes, a redução seria um ato ‘insano’. “Nossa
população carcerária cresce desordenadamente. No Estado de São Paulo
temos 210 mil presos. Essa é a população de algumas cidades. O País tem
que buscar outras soluções para o fenômeno da criminalidade que não o
aprisionamento, pois o que ocorre hoje é a detenção em massa”, ressalta.
Para o integrante do Condeca
(Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente) e
coordenador da Comissão da Infância e Juventude da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) São Bernardo, Ariel de Castro Alves, na atual
situação das prisões, os adolescentes sairiam muito pior do que
entraram. “Se o sistema de tratamento de adolescentes infratores por
meio de medidas socioeducativas ainda não consegue cumprir as
atribuições, o sistema prisional brasileiro menos ainda. Há muito mais
condições do jovem se recuperar a partir de um tratamento especializado,
com a presença de educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais,
como ocorre nas próprias unidades de internação da Fundação Casa, ou
nos programas de liberdade assistida das prefeituras, que esses jovens
serem cuidado por carcereiros e ficarem trancafiados de forma
completamente ociosa, como ocorre hoje nos presídios.”
LIMITES
O especialista em Segurança Pública e
Prisão Jorge Lordello pontua que a questão central não é reduzir a
maioridade penal, mas não haver limite de idade para responder pelos
crimes cometidos. “O que deveria ser verificado é se aquela pessoa que
cometeu o crime tem o entendimento de que aquilo é algo errado.
Independentemente de ter 10, 11, 12 anos, ele responderia pelo que
cometeu”, diz Lordello.
“O menor percebe que mesmo ao cometer
um crime grave, fica pouco tempo como interno na Fundação Casa, o que
acaba por se tornar um estímulo para que continue a praticar crimes
quando sair, sabendo que não haverá punição efetiva. Quando esse jovem
não fica detido, a integridade física dele está exposta, porque na rua
ele corre o risco de uma série de problemas: ser morto por traficantes,
por gangues rivais e pela própria polícia”, destaca o especialista.
Jovem precisa de emancipação social, avalia especialista
O integrante do Condeca (Conselho
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente), Ariel de Castro
Alves, que também coordena a Comissão da Infância e Juventude da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) São Bernardo, analisa que só com
conselhos e atendimentos esporádicos não é possível convencer o jovem a
deixar a criminalidade. “São necessários programas de inclusão e
oportunidades visando a emancipação social dos menores. Temos de ter
programas capazes de criar um novo projeto de vida para os adolescentes,
que envolva suas famílias”, pontua. Nessa questão, ele destaca
programas com subsídio financeiro, que ofereçam bolsa formação e
vale-transporte. “Sem subsídio, não tem como atraí-los.”
Alves ressalta a falta de
oportunidade como um dos principais entraves para a ressocialização.
“São necessários estágios, aprendizagem, cursos técnicos, empregos, com
ações dos órgãos públicos e também da iniciativa privada. Entre as
medidas, precisamos garantir vagas para os jovens em cursos
profissionalizantes”, fala. “Também é necessário criar política de
incentivos fiscais para as empresas que contratem estagiários e
aprendizes. As prefeituras e empresas públicas também devem auxiliar
esses jovens”, acrescenta.
Para o especialista, as unidades de
internação da região e os programas de liberdade assistida das
prefeituras estão deixando a desejar. “Não estão cumprindo suas
finalidades de reeducar, ressocializar e propiciar a criação de um novo
projeto de vida para esses jovens. Além disso, as sete cidades do Grande
ABC não têm programas de atendimento aos egressos de medidas
socioeducativas.”
http://www.dgabc.com.br/Noticia/534075/na-regiao-roubo-qualificado-e-crime-de-59-76-dos-infratores?referencia=destaque-chamada-home
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