Especialistas questionam projeto que passa a organizações sociais gestão da Fundação Casa e outros serviços
Um projeto de lei
que pode mudar consideravelmente a administração pública do Estado de
São Paulo está passando pela Assembleia Legislativa “na miúda”. O texto,
apresentado pelo governador Geraldo Alckmin no final do ano passado,
quer permitir que entidades privadas – as chamadas organizações sociais –
administrem a Fundação Casa, os parques ambientais e serviços públicos
de saúde.
Para o cientista político Francisco Fonseca, professor de
Administração Pública e Governo da FGV-SP, a proposta é um “grande
equívoco”. Ele explica que as privatizações de serviços públicos devem
ser estudadas caso a caso e precisam vir acompanhadas de medidas de
controle.
“É preciso ter mecanismos muito concretos de fiscalização, tanto da
parte contábil quanto da qualidade do serviço prestado pela entidade
privada. Além disso, é necessário ter um controle social, com atuação de
pessoas que usam o serviço”, afirma. Para Fonseca, as privatizações
promovidas em São Paulo não seguem esses critérios.
“O PSDB tem tido uma política de privatização selvagem, sem
diretrizes político-administrativas e sem nenhuma preocupação com o
controle social e com a fiscalização do serviço”, completa.
Juventude
A principal preocupação trazida pelo projeto de lei está relacionada à
gestão da Fundação Casa. A entidade é responsável pelas medidas
socioeducativas para adolescentes e jovens infratores no Estado. Segundo
Nilva Regina Galletti, do Cress (Conselho Regional de Serviço Social),
terceirizar a gestão desta entidade pode dificultar ainda mais o acesso
desses jovens a políticas públicas. “Privatizando, a ideia principal
passa a ser o lucro e não mais o tratamento e a política oferecida
àquele jovem”, afirma.
Para a assistente social, a gestão privada da Fundação Casa também
pode tornar mais difícil acompanhar o que se passa nas unidades. “Se o
Estado entrega a administração para um agente privado, ele deixa de ter
esse controle. Temo muito pela questão da violência e da violação de
direitos”, completa.
Outra preocupação, segundo Nilva, que trabalha no sistema prisional,
são as condições de trabalho dos profissionais que atuam na entidade. “A
situação na Fundação Casa é muito semelhante à que vivemos no sistema
prisional. Precisa melhorar a estrutura, as condições de trabalho e o
salário”, diz.
De acordo com o professor Francisco Fonseca, uma das conseqüências
das privatizações é justamente a desvalorização do funcionário público.
Para ele, a solução mais democrática para melhorar a Fundação Casa não
está na privatização. Fonseca sugere que se mantenha a gestão pelo poder
público, porém com o acompanhamento de um conselho formado por órgãos
como a Defensoria Pública, Ministério Público e organizações de defesa
dos direitos humanos.
Deputados
O projeto de lei que trata da atuação das organizações sociais no
Estado de São Paulo (PLC 62/2013) ainda não foi discutido com a
sociedade, apesar de tramitar em caráter de urgência na Assembleia
Legislativa do Estado. A bancada governista tentou encaminhar o texto
para votação na última terça-feira (22).
A falta de debate é uma das principais críticas da oposição. “A
tramitação do projeto é completamente irregular, não foi feita nenhuma
audiência pública. Vamos fazer uma interpelação judicial e a sociedade
também tem que se mobilizar, porque esse projeto está passando de
fininho. Ninguém está percebendo a gravidade do assunto”, afirma o
deputado Adriano Diogo (PT).
O deputado também questiona o fato de o projeto ter sido apresentado
próximo às eleições. “Na véspera da eleição, você entregar metade da
administração para a iniciativa privada, eu considero um perigoso
precedente, representa uma possibilidade de financiamento de campanha”,
afirma.
O Brasil de Fato SP entrou em contato com o gabinete
da deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), relatora do projeto na Comissão
de Constituição, Justiça e Redação. A reportagem questionou a falta de
audiências públicas e os possíveis riscos de uma privatização desses
serviços. Porém, a assessoria de imprensa se limitou a responder que “a
deputada Maria Lúcia Amary deu parecer favorável quanto à
constitucionalidade do projeto”.
http://www.spressosp.com.br/2014/04/28/terceirizacoes-de-alckmin-sao-equivocos-diz-professor/
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