segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Aos 14 anos, drogado e jurado de morte

Acusado de estupro, Paulinho chegou a levar seis tiros, mas sobreviveu; mãe implora por internação


Sem pai e filho de mãe usuária de crack, Paulinho (nome fictício) decidiu, aos 10 anos, fugir de casa, encravada num dos trechos mais violentos do Simioni, zona Norte de Ribeirão Preto, e dar um rumo à própria vida.
Até essa idade, vivia sob os cuidados da avó materna. Após a morte dela, descambou mundo afora: passava dias e noites na rua, começou a usar drogas, virou dependente de cocaína e crack.
Aos 12 anos já colecionava visitas ao distrito policial por pequenos delitos. Aos 13, acabou internado na Fundação Casa, onde cumpriu 1 ano e 3 meses de medida socioeducativa por assalto a mão armada.
Era para ter saído de lá regenerado, apto a viver em sociedade, mas voltou às drogas e ao crime. Dessa vez com um parceiro, cometeu algo abominado na cadeia: estuprou duas jovens que saíam de uma pizzaria.
O crime revoltou a comunidade do assentamento da Fazenda da Barra, onde as meninas viviam. Pelo delito, passou a ser caçado por desafetos sedentos por fazer justiça com as próprias mãos.
Quando trafegava pela estrada velha de Jardinópolis, ao lado do comparsa do crime sexual, foi interceptado a bala. Levou seis tiros e o companheiro, vários outros. O comparsa morreu, mas Paulinho sobreviveu aos tiros que esfacelaram um de seus braços e rasgaram pescoço, barriga, peito e nuca.
Mas os desafetos não desistiram de dar cabo à vida de Paulinho. Amedrontada, a mãe dele, Áurea Cleide – que tem tido cada passo seu seguido por desconhecidos –, pediu socorro à Justiça e conseguiu interná-lo em um dos abrigos da cidade por medida protetiva.
Na penúltima quarta-feira, o adolescente, que está prestes a completar 15 anos, teve uma audiência com o juiz Paulo César Gentile, titular da Vara da Infância, para pleitear sua inclusão no PPCAM (Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Aeaçados de Morte) do Estado.
“Se não fizerem nada pelo meu filho, ele vai morrer. Estou aqui para implorar para o juiz fazer alguma coisa por ele”, disse a mãe na antessala do gabinete do juiz. Ela alega não saber por que o filho está jurado de morte.
O promotor da Infância e da Juventude, Luiz Henrique Pacagnella, disse que não poderia comentar o caso específico de Paulinho por ser segredo de Justiça, mas afirmou que, até agora, a Vara da Infância não conseguiu nenhuma das três vagas pedidas ao PPCAM.
15 mil são dependentes de drogas ilícitas
Apesar do Conselho Municipal sobre Álcool e Drogas (Comad) ainda não ter um levantamento pronto, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estima que Ribeirão Preto, com 650 mil habitantes, tenha cerca de 15 mil dependentes de drogas ilícitas (com exceção da maconha). Dessa fatia, 4,4 mil utilizam crack e similares (pasta-base, merla e oxi).
Ainda pelo levantamento da Fiocruz, 14% dos dependentes, em média, são menores. Isso deixa Ribeirão Preto com mais de 600 crianças e adolescentes dependentes de drogas ilícitas.
Entenda os números
No final do ano passado, a Fiocruz divulgou um estudo apontando que 2,3% dos moradores das capitais e das grandes cidades brasileiras são usuários de drogas ilícitas (com exceção da maconha), sendo que 0,81% são dependentes de crack e similares – pasta-base, merla e oxi. (com Marcelo Fontes)
Jornal A Cidade

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