27/04/2006 - Copyleft
Fernanda Sucupira – Carta Maior
Estudo mostra que trabalhar na Febem faz mal à saúde de monitores
SÃO PAULO - Não são apenas os adolescentes que sofrem na Febem por conta de inúmeras violações de direitos humanos. Funcionários da instituição são submetidos a péssimas condições de trabalho, com conseqüências graves e diretas na saúde deles, como comprova relatório lançado nesta semana que analisa a situação dos monitores da Febem. O documento se baseia em uma pesquisa desenvolvida entre 2003 e 2005 pela Fundação Jorge Duprat de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em parceria com a Delegacia Regional do Trabalho, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Mooca e o do Estado de São Paulo.
Desencadeamento de alcoolismo ou aumento do consumo de álcool; dependência química; depressão; estresse por conta das situações de perigo, incluindo o estresse pós-traumático em situações de violência, como as rebeliões; e impotência sexual são apenas algumas das queixas de cunho psicoemocional ligadas ao dia-a-dia desses trabalhadores. Também são freqüentes os casos de desentendimentos dentro de casa, falta de vontade de ter relações sexuais e separação da família pouco tempo após a entrada na instituição. A prática de horas extras, que leva os monitores a ficarem até 15 dias sem voltar para casa, é um fator importante na desestruturação familiar desses trabalhadores. De 1998 a 2002, 60% dos diagnósticos de afastamento de funcionários da Febem estavam relacionados a quadros de transtornos mentais.
Também há relatos de câncer de pele, por causa da longa exposição ao sol, no pátio com os adolescentes; dores nas pernas, por ficarem muito tempo em pé ou andando, sem pausas regulares; escabiose (sarna); casos de contaminação por tuberculose e Aids, além de um grande temor de que isso ocorra.
“O ambiente de trabalho deles tem características de insalubridade e periculosidade, em função das condições em que está sendo administrada a Febem e do objeto de trabalho serem crianças e adolescentes infratores”, afirma a psicóloga Tereza Luiza Ferreira dos Santos, pesquisadora da Fundacentro e coordenadora do estudo.
Segundo ela, esses trabalhadores não recebem capacitação adequada e são extremamente sobrecarregados. Uma grande quantidade de tarefas, como acompanhar o banho e as refeições dos meninos e sair com os eles para eventuais atividades externas, faz com que eles precisem dispensar total atenção aos internos. “O monitor tem a função de cuidar, de proteger o menino dele mesmo e dos outros, serve como companheiro, colega, representa a figura do pai para o adolescente. O trabalho exige muitas facetas dele e qualquer problema estoura em cima do monitor”, completa a psicóloga. De acordo com o estudo, os funcionários se queixam de que a Febem nunca definiu se quer que eles sejam educadores ou responsáveis pela contenção dos jovens, duas tarefas bastante contraditórias que se transformam em fonte de conflitos para o monitor.
A pesquisa mostra ainda que o trabalho deles se sustenta num tripé: medo exacerbado, desconfiança dos meninos e de outros monitores, e constante ameaça de violência. “Esse tripé não é nada favorável à saúde. Com o estresse constante e a prontidão para a ação, eles podem reagir a qualquer barulho de forma muito intensa. Há uma desarticulação da vida da pessoa que trabalha lá dentro, pois entre o medo da perseguição e a perseguição há uma linha tênue. Alguns passam a fazer um trajeto diferente de casa para o trabalho, mudam de residência, a família deixa de sair para o lazer, e até começam a andar armados. São situações que saem completamente do âmbito do trabalho e vão para a vida pessoal. Em alguns casos de estresse pós-traumático, as pessoas não se recuperam nunca”, explica Tereza.
O estudo sugere algumas medidas para melhorar as condições de trabalho dos monitores da Febem. Uma delas é elaborar um processo de capacitação real, com a participação de funcionários mais antigos, que já tenham experiência na profissão e a vida estruturada, que aumente o conhecimento deles sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e sobre o desenvolvimento do adolescente em privação de liberdade. Outra recomendação é a diminuição das longas jornadas de trabalho, para que eles fiquem menos tempo de uma só vez expostos aos riscos de sua função. Atualmente são dois dias com jornada de 12 horas, seguidos por dois dias de folga. A diminuição do número de adolescentes por unidade e o aumento da quantidade de monitores também contribuiria para deixar o trabalho menos penoso.
Um aspecto a ser abordado é a adequação da estrutura física das unidades ao trabalho com adolescentes em medida sócio-educativa de privação de liberdade e o desenvolvimento de um projeto pedagógico. “Faz-se necessário um cuidado especial na concepção e construção das unidades, priorizando alguns aspectos como: qualidade dos materiais utilizados nas construções em alvenaria (bancos, camas, etc), atenção à necessidade de saídas de emergência nas unidades e readequação dos espaços reservados para atividades pedagógicas e recreativas, como por exemplo, a criação de pátios cobertos para proteção contra sol e chuva”, afirma o relatório.
Além disso o documento recomenda a criação de um programa de acompanhamento dos monitores e de suas condições de trabalho, já que os programas psicossociais da instituição são rotulados como programas para alcoólatras ou drogados.
“Em trinta anos, a Febem passou por sessenta administrações diferentes, o que gera uma descontinuidade de políticas. Muda a administração, mudam os diretores, o modo de ver, e desmantela tudo”, afirma a pesquisadora da Fundacentro.
http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FDireitos-Humanos%2FEstudo-mostra-que-trabalhar-na-Febem-faz-mal-a-saude-de-monitores%2F5%2F9962
Fundação CASA de SP dá identidade funcional aos Agentes de Apoio Socioeducativo?
ResponderExcluirNão dá isso infelizmente, dá só um crachá que deve ser usado no período de trabalho, e é cobrado mesmo, se esquecer dá uma especie de punição chamada de portaria 070, por um tempo coloquei o crachá na carteira e até que resolveu nas blites da polícia, pois ia retirar a carta e daí retirava o dito cujo junto, puxava um assunto do trabalho, e meio que aliviava, mas hoje acho arriscado, vendi até minha carteira com brasão do estado que eu comprei perto da Rota.
ExcluirPessoal a verdade é como garantir a segurança dos internos se os funcionários não garante a segurança deles mesmo,pois não tem capacitação e nem material de trabalho em momentos de tumultuo e rebeliões.Temos que brigar por uma condição melhor de trabalho.
ResponderExcluirFUNDAÇÃO CASA E FEBEM, QUAL A DIFERENÇA? NENHUMA
ResponderExcluirAté que enfim um estudo demonstrando a penosidade do trabalho de um Agente Socioeducativo, ou Agente de Segurança... agora fiquei perdido!!!
ResponderExcluirO descaso dos gestores para esta questão é incontroversa, aguardemos as mudanças politicas porque pior que está não fica.
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