Um estudo inédito da Fundação Casa traçou o perfil
dos adolescentes nas unidades de internação em todo o Estado de São
Paulo, com recorte para as cidades que abrigam a instituição. Os dados
envolvem informações do último censo do IBGE mais as informações
colhidas do banco de dados da Fundação.
O estudo analisou a situação de 7.805 adolescentes
em São Paulo. Nas unidades de Araraquara e São Carlos foram 498 jovens
em conflito com a lei. As internações por roubos qualificados
representam 56%. O tráfico de drogas responde por 44% das internações.
Os números foram apresentados pela presidente da
Fundação Casa, Berenice Gianella, que esteve em Araraquara, ontem,
participando do seminário “A Juventude e a Questão Social: como superar a
violação de direitos?”. O evento ocorre até a próxima sexta-feira e
também passará pelas cidades de Ribeirão Preto e Franca.
“Com esses dados é possível construir um
planejamento das atividades desenvolvidas pela Fundação Casa e quais as
regiões que necessitam da presença da instituição. Ele revela quais as
medidas socioeducativas precisam ser aplicadas para a reinserção do
adolescente na comunidade”, afirmou.
As regiões de Araraquara e São Carlos mostram um
perfil diferenciado das outras unidades da Fundação Casa, em que a
predominância das internações é o tráfico de drogas. Em função da venda
de entorpecentes em Franca, por exemplo, as internações na Fundação
ficam em 77% enquanto os casos de roubo representam 23%. Em Ribeirão
Preto, por causa do tráfico de drogas, 55% dos jovens estão internados e
45% estão na unidade por conta dos roubos.
No interior do Estado, o domínio das internações na
Fundação Casa é por conta do tráfico de drogas – 51,45%. Roubos
qualificados (33,39%) e roubos simples (4,26%) dão sequência ao ranking
das internações. Homicídios dolosos (com intenção da prática) são
responsáveis por 1,36% das internações e furtos 1,02%. “No caso das
internações por furto, cabe uma reflexão: uma outra medida
socioeducativa, que evitasse a internação, não seria mais eficaz?”,
indagou Berenice.
Segundo a presidente da Fundação Casa, os números
balizam as ações a serem desenvolvidas pelo Estado e pelos municípios e
citou como exemplo o tráfico de drogas. “Se tem muita gente envolvida
com o tráfico de entorpecentes, podemos fazer uma análise no aspecto de
melhorar, os serviços como a assistência social ou os
Centros de Apoio Psicossociais, os Caps”, argumentou.
O defensor público da infância e juventude, Jonas
Zoli Segura, participou do evento. Ele defendeu que as internações por
tráfico de entorpecentes desrespeitam o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), uma vez que esse tipo de ato não é praticado com
violência. “Em 86% dos casos de habeas corpus solicitados pela
Defensoria Pública, metade tem provimento, com base nesse entendimento
baseado no ECA. Nós entendemos que a medida socioeducativa, aplicada em
regime aberto, é a forma mais adequada de reinserir o jovem à
sociedade”, afirmou.
São Carlos: adolescentes ficam internados na Casa por 118 dias
A média preconizada pela Fundação Casa para
internações é de 142 dias. Segundo o estudo da instituição, a
permanência dos adolescentes por conta dos roubos é de 118 dias enquanto
Araraquara é de 136 dias, bem abaixo das unidades de Franca (296),
Sertãozinho (273), Batatais (212) e Ribeirão Preto (214).
A permanência na Fundação Casa por tráfico de
entorpecentes em São Carlos é de 142. Araraquara (144), Ribeirão Preto
(174), Sertãozinho (274), Batatais (201) e Franca (244) completam a
lista.
A pesquisa analisou 620 internos da região. A faixa
etária entre 15 e 17 anos abriga 78,23% dos adolescentes; dos 12 aos 14
anos, 15% e 18 anos ou mais, 6,77%.
Custos com adolescente e poucos parceiros devem motivar saída da Fundação Casa do NAI
A presidente da Fundação Casa, Berenice Gianella,
confirmou que a Fundação Casa deve deixar o Núcleo de Atendimento
Integrado (NAI) em 31 de dezembro deste ano, conforme anunciado com
exclusividade pelo Primeira Página.
Berenice participou de um seminário, na manhã de
ontem, em uma universidade particular de Araraquara. “O NAI deixou de
ter a participação de outros parceiros do Núcleo e isso sobrecarregou a
Fundação Casa. Por outro lado, a Fundação passa por uma fase de
readequação dos custos e de orçamento. Hoje, para manter a Fundação Casa
no NAI o custo é bem alto”, afirma.
Segundo Berenice, para manter um adolescente na
Fundação Casa, o custo é de R$ 7 mil por mês. O NAI oferece seis vagas e
o custo supera esse valor, de acordo com a presidente da Fundação Casa,
sem estimar um número exato. “O NAI se tornou algo individual,
praticamente com a participação apenas da Fundação Casa, sendo que a
unidade da Casa em São Carlos está necessitando desses funcionários”,
observou.
Mesmo diante desse cenário, a Prefeitura, por meio
da Secretaria de Cidadania e Assistência Social, promete dar sequência
aos projetos sociais do Núcleo, já que a Prefeitura vinha discutindo,
com alguns parceiros, a reestruturação do projeto social.
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