Ao todo, 838 internos farão o Enem nos presídios dias 3 e 4 de dezembro.
Exame terá um total de 30 mil inscritos, entre menores infratores e detentos.
Interno da Fundação Casa da Raposo Tavares se prepara para o Enem (Foto: Victor Moriyama/ G1)
Há cinco meses cumprindo medida socioeducativa na Fundação Casa,
localizada na Rodovia Raposo Tavares, em São Paulo, o estudante de 17
anos vê no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
uma chance de ingressar na faculdade e começar uma vida nova. Além
dele, outros 837 internos privados de liberdade estão inscritos para o
exame que será aplicado pelo Ministério da Educação nos dias 3 e 4 de
dezembro nas unidades para adolescentes infratores e presídios em todo o
país. O exame tem um total de 30 mil inscritos, entre adolescentes e
detentos."Nunca parei de estudar e aqui estou aprendendo bastante porque são poucos alunos na sala. Quero buscar o melhor para mim, quando sair quero novos desafios. Daqui vou levar muito aprendizado", afirma o jovem que pretende cursar educação física ou design gráfico.
Interno estuda em pátio da Fundação Casa
O estudante é bom desenhista, gosta de grafite, mangá e quadrinhos. Na Fundação fez aulas que o ajudaram a realçar seu talento. Ele diz que se esforça para ser bom aluno também, e tem mais facilidade para química e biologia. Matemática é a vilã. "Acho que vai dar para fazer o Enem."
A mãe do adolescente é diarista, o padrasto pintor e o pai trabalha como pedreiro. O único irmão faz faculdade de educação física. "Minha mãe chora até hoje por eu estar aqui, ela sempre vem nas visitas. Quero mudar minha vida por ela e por mim."
O Enem para os candidatos privados de liberdade será uma prova com questões diferentes das que caíram na edição de outubro na qual participaram mais de 5 milhões de estudantes. Porém, o formato se mantém. No primeiro dia, os candidatos respondem a 45 questões de ciências humanas e mais 45 de ciências da natureza em 4h30. No segundo dia, 45 questões de linguagens e 45 de matemática, mais uma redação, em 5h30. O exame será aplicado nas unidades inscritas.
Enem para atingir objetivos
Depois de 11 meses de medida socioeducativa, outro interno, de 18 anos, aluno do segundo ano do ensino médio, estima que em breve vá sair da unidade da Raposo Tavares. Antes disso, fará o Enem no local. "Acho que será uma fonte boa para chegar a meus objetivos que é constituir uma família com uma boa profissão."
A mãe do jovem é formada em direito, mas como não foi aprovada no Exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), não exerceu a profissão. Atualmente ela trabalha como auxiliar de enfermagem. O jovem não foi reconhecido pelo pai, apesar de ter tido contato com ele durante a infância. Apesar disso, considera a família muito unida "daquelas que gostam de almoçar e jantar com todo mundo junto." Para a mãe, sua internação "foi um choque muito grande".
Fã de história, sociologia e filosofia, o jovem conta que adquiriu o hábito da leitura na unidade e pretende fazer faculdade de psicologia para desvendar os mistérios da mente humana. No entanto, nas disciplinas de física e matemática, ele diz que não vai bem. "Ficar nervoso no Enem vai ser praticamente obrigatório, mas pretendo conseguir algo de bom com ele."
Interno estuda para o Enem
Defasagem escolar
A Fundação Casa atende hoje quase 9 mil adolescentes em regime privado no estado. A maioria chega nas unidades com defasagem escolar e não está na série ideal para a idade. Por isso, apesar de ter entre 16 e 17 anos, a maioria dos internos cursa o segundo ciclo do ensino fundamental, do 6º ou 9º ano.
Os internos seguem a mesma rotina dos alunos da rede regular do Estado de São Paulo. As aulas ocorrem em salas, divididas em pequenos grupos, sob a vigilância de funcionários.
Dos 838 adolescentes inscritos para o Enem, cerca de 200 estão no terceiro ano do ensino médio. A maior parte dos inscritos (531) fará o Enem para obter a certificação do ensino médio, segundo Neuza Flores, gerente da área escolar da Fundação Casa.
Como os internos não têm acesso à internet, cabe aos funcionários de cada unidade inscrevê-los no Enem. Também são eles que avaliam a possibilidade de os adolescentes disputarem vagas no Sisu (no caso de instituições públicas) ou bolsas de estudo do Prouni (instituições particulares).
Quando o estudante consegue a vaga, é necessária uma autorização judicial para que ele possa frequentar as aulas. O adolescente pode tanto ser desinternado, ter uma mudança do regime da medida (passar de regime privado a semi-liberdade, por exemplo) ou, ainda, assistir às aulas acompanhado por um funcionário da Fundação, dependendo do histórico do interno. O juiz também pode negar a autorização.
No ano passado, 23.665 candidatos privados de liberdade fizeram o Enem, sendo 20.687 homens e 2.978 mulheres. Do total, 17.945 buscaram a certificação do ensino médio. Para este ano, segundo o MEC, 30 mil candidatos foram inscritos para a prova. O crescimento é de 28,13% em relação a 2012.
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