terça-feira, 22 de maio de 2012

Polícia está em alerta com a juventude


Envolvimento de adolescentes no mundo do crime chama a atenção da segurança pública e preocupa delegado

Uma família assustada e surpresa. A rotina tranquila no  bairro de classe média de Bauru foi quebrada pelo suposto envolvimento de um adolescente de 17 anos no rumoroso caso do vazamento de fotos da atriz Carolina Dieckmann nua.


O garoto, definido como estudioso pela família, é suspeito de ter chantageado a atriz. A polícia chegou ao endereço por meio do IP do computador. O estudante teria pedido R$ 10 mil para não espalhar as fotos, que viraram públicas no final da semana passada por meio da ação de crackers já identificados pelos policiais.



É mais um fato marcante de uma realidade policial: a presença cada vez mais constante de adolescentes no cenário do crime, seja ele virtual ou não. 


“Toda a sociedade precisa ficar alerta. A preocupação é realmente grande”, diz o delegado seccional de Bauru, Marcos Mourão, sobre a participação de menores em casos policiais considerados graves. 


Ele enxerga uma crise de valores, falta de educação e de compromissos éticos. Fala também do uso de drogas como agravante. Fatores sociais e policiais compõem o quadro que deixa a polícia em frequente estado de atenção.


“Os valores foram deixados de lado”, lamenta Mourão. 


A situação chegou ao ponto do secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, defender a presença de policiais militares na porta das escolas.


A violência entre adolescentes ou contra professores é hoje um dos principais problemas do ensino público no Estado de São Paulo. Na semana passada,  por exemplo, uma discussão entre adolescentes iniciada numa escola do Mary Dota virou confusão que envolveu as famílias e terminou em agressões. Detalhe: a briga começou no Facebook.      


Voorwald também articula a presença do Ministério Público nas escolas. Por meio do contato com os promotores, os professores poderão aprender a mediar conflitos juvenis.     


Punição /Ao mesmo tempo em que ressaltou o perigo do uso inadequado da internet, o caso de Carolina Dieckmann mostrou que as ações irresponsáveis de jovens podem ser punidas. A Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou rapidamente os acusados pela invasão do computador da atriz, divulgação das fotos pessoais e tentativa de chantagem. 


No mundo “real”, outro crime praticado por um jovem chamou a atenção em Bauru e foi descoberto pela polícia na semana passada.


Um traficante de 18 anos foi preso no Jardim Ivone após manter em cárcere privado uma aposentada de 53 anos e uma adolescente de 14. Ousado, ele tentou subornar os policiais para não ser levado. Não adiantou.



Menores cumprem medidas socioeducativas
A Fundação Casa, antiga Febem,  atende jovens de 12 a 21 anos incompletos. Eles são inseridos nas medidas sócioeducativas de internação e semiliberdade 


88 
É o número de adolescentes que a Fundação tem capacidade de atender em Bauru 


Fundação não responde sobre atendimento
O BOM DIA perguntou à Fundação Casa quantos adolescentes são atendidos atualmente e se faltam vagas em Bauru. A resposta não foi enviada pela assessoria de imprensa até o final da tarde de sexta-feira


Famoso na polícia, J. rouba até na noite de  Natal

A saga precoce  e violenta de J., 20,  é emblemática sobre o envolvimento de adolescentes no mundo do crime.


Aos 16 anos, ele foi acorrentado em casa pela mãe por causa do uso de drogas e prática de  infrações. Até numa morte estava envolvido.     


Na época, a mãe afirmou que o filho era ameaçado de morte e preferia vê-lo acorrentado do que morto. 



As correntes não resolveram o problema. A vida criminosa continuou. Ele virou adulto e seguiu sendo acusado de participação em roubos e agressões. Coleciona prisões e é um nome conhecido no meio policial. 

Na época do acorrentamento, a mãe disse a jornalistas que antes de adotar a medida drástica procurou ajuda em várias entidades para tratar a dependência química do filho.  


J. teria começado a usar drogas com 14 anos e já passou pela Fundação Casa.


Aúltima sentença contra ele é de abril deste ano. Foi condenado a quatro anos de prisão por supostamente ter invadido a casa de uma idosa e roubado R$  70 e um celular.


Era noite de Natal e a vítima acabara de voltar da comemoração familiar. 


Formação da identidade é fase de confrontos


Os sentimentos antagônicos e dolorosos, os atritos familiares e a circulação em diversos ambientes  são algumas das características da fase crítica da adolescência. Nada mais do que a transformação da criança em adulto. 


Não é fácil passar por esse processo de formação de identidade. O momento é propício para deslizes que, em alguns casos, têm consequências graves. 


“O adolescente passa por um período de diferenciação dos pais. Busca sua própria identidade, organiza-se em grupos de interesse”, explica a psicóloca Marina Zulian Delázari. 


Segundo ela, os sentimentos em relação a esses grupos são intensos. São eles que oferecem aos jovens a sensação de segurança e estímulo aos questionamentos e oposições.



“No entanto, por vezes o adolescente e seus grupos elegem caminhos distorcidos para diferenciar-se do adulto, como as drogas, a  delinquência e outras formas de protesto”, diz. 


Além dessa postura rebelde, há a falta de maturidade para agir.


Marina reforça que a adolescência é justamente o período de preparação  para a entrada no mundo adulto. 


“O adolescente precisa ter espaço para se expressar e aprender a ter responsabilidades na sociedade em que vive. Precisa conhecer e exercer seus direitos e deveres. Essas experiências são necessárias para que se sinta parte da sociedade em que está inserido, para que, progressivamente, sua identidade e sinta-se capaz de assumir as  responsabilidades de ser adulto”.

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