sábado, 17 de dezembro de 2011
A rebelião
Este é um dos acontecimentos limítrofes com o qual o agente é obrigado a lidar: a rebelião. Esta situação provocada, organizada, planejada
e executada pelos menores expõe todos os monitores da Febem a uma
condição de risco extremo de serem feitos reféns, de agressões violentas
e de morte.
Além destes riscos, os trabalhadores, após terem vivenciado uma
rebelião, possivelmente apresentarão, em um primeiro plano, sintomas de
estresse pós-traumático e em outros planos poderão sofrer sérias mudan-
ças na sua postura profi ssional, bem como implicações sobre continuar ou
não trabalhando como monitor na Febem.
Como surge então uma rebelião? Quais fatores ou condições propiciam
a sua eclosão? Quais os seus objetivos?
Segundo os próprios agentes, a rebelião, tem diferentes nuances e facetas. É sem dúvida uma situação extrema, quando as formas de controle
objetiva e subjetiva já não encontram continência e nem tampouco surtem
efeito: O jeito é “virar a casa”, ou seja, tomar o controle, desorganizar, destruir, queimar, extrapolar todas as barreiras, mesmo que o preço seja a
própria vida.
Apesar desta desorganização e destruição, em geral elas têm objetivos
bem definidos: rebeliões são organizadas para disputa de grupos rivais;
para agredir os funcionários (para “zuar o funça”, na linguagem do menino),
em geral bem definidos anteriormente em função da relação deste com
os meninos e de sua postura no pátio; para dominar a casa ou para fugir.
Os agentes experientes identificam algumas situações e momentos
em que pode emergir uma rebelião.
A “casa desandada” , nas mãos dos meninos com a conivência do diretor “paga pau” "madeirão"
e de monitores sem uma postura firme, pode abrir precedentes para troca de favores, como levar celular, e até drogas para dentro
das unidades, favorecer a ausência de rotina e a resistência a esta rotina
por parte dos meninos.
Além disso, outros indícios são descritos como: o uso da “touca ninja”
o “bater grade”
; o ficar cochichando em grupos; o cantar em grupo para
dissimular o ruído da confecção de armas brancas (“estiletes, highlander”
etc); a retirada dos parafusos das trancas (usados para produção de
armas), “além de um espírito de rebelião, uma tensão que é sentida no ar
e a gota d’água que faz a coisa desandar”. Todas estas dicas, se percebidas
pelo agente, daí a importância da experiência, do funcionário de carreira.
Quando a rebelião eclode ou mesmo um tumulto, exigem-se do monitor posturas de contenção dos meninos e do movimento. Se há experiência
por parte do coordenador de turno e dos monitores, as providências tomadas serão no sentido de retirar do pátio e da unidade todos os monitores
e monitoras, trancar as portas e chamar os vigilantes, o “choquinho” ou
mesmo a tropa de choque para conter o movimento sem que os meninos
percebam suas intenções.
No entanto, apesar das providências tomadas e de se chamar o refor-
ço, o “choquinho” nem sempre atende a solicitação de imediato e aí as conseqüências do atraso são as agressões, a destruição, as fugas etc. E
em várias ocasiões, exige-se do monitor, em sua atividade de trabalho, o
uso da violência para a contenção do menino. Esta é uma questão séria e
complexa, pois este mesmo agente do qual se exige uma postura de contenção, pode ser demitido por justa causa em função desta exigência após
o final da rebelião.
Quando o movimento é apenas de tumulto, agentes e coordenadores experientes controlam a situação “no grito. A primeira coisa é ficar de
pé, se estiver sentado; bater a cadeira no chão e gritar: pára, pára. Após o
controle da situação, forma-se todos os meninos no pátio, só de coruja e
dá uma lição de moral neles”.
As rebeliões muitas vezes têm saldo bastante negativo, tanto para
meninos como para agentes, sejam por agressões, acidentes de trabalho, óbitos etc. Pode ocorrer também a culpabilização do funcionário e
o afastamento de grande número de agentes de uma mesma unidade
motivado por doença pós-rebelião, por demissões por justa causa ou por
demissão espontânea.
Os agentes são tomados por sentimentos e emoções contraditórias
quando em situações de tumulto, agressões ou de rebeliões. Pensando em
termos da teoria do estresse, verifica-se claramente o estado de alerta que
é disparado a partir de um estímulo de perigo e as reações de fugir ou de
lutar.
(extraido do livro "monitores da febem"
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