jovem de 17 anos nem sabe quantas vezes já ficou preso em uma cela de delegaciaFoto: Daniel Conzi / Agencia RBS |
Felipe Pereira
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Conhecedoras dos caminhos da delinquência juvenil, as assistentes sociais e psicólogas dos centros de recuperação do Estado conseguem encaixar as perguntas certas para abrir corações e mentes dos adolescentes internados por tráfico, homicídio e assalto. Eles mencionam fatos nada surpreendentes como uso de drogas, pobreza e ausência do pai — seis em cada 10 internos do Estado nunca compraram um presente para entregar no segundo domingo de agosto.
Vinculada à disciplina e ao estabelecimento de limites, a figura paterna tem papel decisivo na formação da personalidade de uma pessoa e a ausência influencia numa possível entrada no mundo do crime. Esperar que o mundo eduque é insuficiente, diz a juíza Sonia Moroso, da 1a Vara Criminal de Itajaí e madrinha de uma instituição para crianças e adolescentes.
— Se a autoridade não é exercida, a criança cresce sem regras e há mais facilidade em ultrapassar os padrões de normalidade — afirma Sonia.
Mas os especialistas ressaltam que não existe uma relação de causa e efeito e não significa que todo órfão de pai será delinquente. Se fosse assim, faltariam vagas no sistema socioeducativo. Ocorre que a participação do pai internaliza conceitos éticos e de cidadania num processo que começa desde o nascimento, conta Maria de Lourdes Trassi Teixeira, supervisora do Curso de Psicologia da PUC-SP.
Segundo Maria de Lourdes, o contato desde os primeiros dias de vida reforça os vínculos afetivos do futuro adolescente com a pessoa tomada como exemplo. Ela declara ainda que ouvir "não" nos primeiros anos de vida mostra que alguém se importa e não deseja que a criança seja exposta a situações perigosas. Ser criado sem atenção leva a ignorar os demais.
O psicólogo do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público, Marlos Terêncio, ressalta que a ausência do pai traz prejuízos, mas pode ser remediada. Um tio, avô ou professor ou até um figura feminina pode desempenhar o papel de imposição de regras, visto que 37% das famílias são chefiadas por mulheres de acordo com o censo do IBGE. Ocorre que as famílias não recebem a orientação e o acompanhamento necessário para nomear alguém que imponha regras e crie senso de responsabilidade nos jovens.
Quando nada disso acontece, o jovem vai parar num centro de recuperação que em Florianópolis tem o sugestivo nome de PAI — Plantão de Atendimento Inicial.
Vontade de estar próximo foi transformada em ódio
O jovem de 17 anos nem sabe quantas vezes esteve na cela da delegacia, mas acredita estar perto da vigésima. Por trás da grade ele diz que se considera um órfão de pai vivo. A distância não é uma opção do garoto que foi atrás do pai diversas vezes. Sempre ignorado, desistiu e a vontade de estar próximo virou ódio.
Ambos ficaram próximos quando o jovem foi apreendido pela primeira vez. O pai apareceu para reclamar que não gostava de vagabundo e partiu para cima. Socos até cair no chão, pontapés enquanto estava caído e por fim golpes com fio de luz. O garoto diz que começou no crime por necessidade aos 12 anos e se hoje o pai aparecer para bater nele vai ter briga de igual para igual.
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/policia/noticia/2013/08/ausencia-paterna-e-a-marca-de-menores-infratores-internados-em-santa-catarina-4229988.html
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