Apoio da família e incentivo da equipe multidisciplinar da Unire foram ingredientes essenciais dessa conquista
BRASÍLIA (25/11/14) – Após um ano e meio cumprindo medida socioeducativa de internação, João Carlos*, 19 anos, está próximo de virar definitivamente uma página difícil de sua história. A aprovação no vestibular para o curso de Medicina Veterinária das Faculdades Integradas (Icesp) renovou as esperanças do jovem de traçar um novo caminho para sua vida.
A vontade de se dedicar ao cuidado dos animais é algo que João acalenta desde a infância. No entanto, pelas circunstâncias da vida, esse sonho foi se tornando cada vez mais distante. O envolvimento com drogas na adolescência o afastou do convívio familiar e da escola, aproximando-o das ruas e da criminalidade.
Em maio de 2013, o adolescente foi apreendido e sentenciado a uma medida socioeducativa em regime de internação. Passou pelo antigo Caje e, após completar 18 anos, foi transferido para a Unidade de Internação do Recanto das Emas (Unire), que acolhe os adolescentes após atingirem a maioridade durante o cumprimento da medida.
No sistema socioeducativo, João decidiu que queria mudar de vida e voltou a estudar. Além de frequentar a escola regularmente, dedicou-se a atividades extras de formação oferecidas na unidade, a exemplo do curso profissionalizante de Panificação – promovido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) – e a capacitação on-line Conhecer Direito, oferecida pela Defensoria Pública do DF com o objetivo de disseminar noções básicas de Direito e Cidadania aos estudantes da rede pública.
Ao ingressar no terceiro ano do ensino médio, João decidiu tentar o vestibular. Segundo ele, o falecimento do pai também o fez repensar sua vida. "Eu não queria mais continuar no crime e percebi que deveria tomar alguma atitude para mudar essa situação", contou. Para colocar em prática a decisão, teve o apoio dos profissionais da equipe multidisciplinar que atuam na Unire. Segundo João, esse acompanhamento foi fundamental.
Durante um atendimento individual, a pedagoga da unidade soube do interesse do jovem em prestar o vestibular e conversou com a coordenação da escola e sua família sobre o assunto. "Eu passei a receber apostilas da biblioteca da escola e de um curso de pré-vestibular, emprestadas por um primo meu que é universitário. Eu frequentava a escola e complementava os estudos no alojamento e durante os banhos de sol", explicou.
Com autorização da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas (Vemse), a equipe da Unire providenciou a inscrição do rapaz no vestibular das Faculdades Icesp e ele pôde fazer as provas. O nome na lista de aprovados foi recebido como um presente de Natal antecipado para a família. "Fiquei muito feliz, sempre confiei e acreditei no meu filho. Também sou grata à equipe técnica que me ajudou muito no sentido de orientar o cumprimento da medida. Com esse apoio da instituição, eu passei a me sentir mais segura e confiante", resumiu a mãe do rapaz.
E para outras mães que também compartilham as dores de ter um filho apreendido, ela deixa um recado especial: "Não desistam dos seus filhos. Por mais que estejam sofrendo, sempre busquem palavras de incentivo e encorajamento. Acima de tudo, acreditem neles e creiam que um futuro melhor está à espera de cada um. Mostrem que somente eles serão capazes de escrever um futuro de sucesso".
ESTÍMULO – Em junho deste ano, outro socioeducando da Unire havia sido aprovado no vestibular da Universidade de Brasília para Educação Física. O esforço do jovem, de 18 anos, foi recompensado com o retorno ao convívio familiar para que pudesse frequentar as aulas da graduação. A decisão da Vemse pelo encerramento da medida socioeducativa levou em consideração a dedicação do rapaz aos estudos e o bom comportamento dele durante o período que passou no sistema socioeducativo.
De acordo com a assistente social Naira Silveira, os resultados obtidos por esses dois socioeducandos têm entusiasmado os demais internos a acreditar na transformação por meio do estudo. O ensino superior não é a única meta; há jovens estudando para concursos públicos também. "Histórias como esta dão um sentido especial ao nosso trabalho e nos motivam a continuar. É gratificante ver que contribuímos de alguma forma com o amadurecimento psicossocial desses jovens e suas famílias", definiu.
FUTURO – Passada a euforia pela aprovação do vestibular, João não quer perder tempo e já começou a pensar no futuro. Os planos incluem uma nova rotina de estudos, a procura por um estágio e a ocupação do tempo livre com atividades que sejam saudáveis. Ele se orgulha da conquista, mas reconhece que terá muitos os desafios a superar a partir de agora. "Nada melhor que vencer através dos estudos e do meu próprio esforço, mas nem por isso as coisas vão ser fáceis. Sei que vou enfrentar várias dificuldades, mas estou bem disposto."
No último dia 13 de novembro, João participou de uma audiência na Vara de Execução de Medidas Socioeducativas e recebeu o benefício da saída sistemática, concedido aos adolescentes que estão prestes a concluir a medida. Além de poder passar os fins de semana com a família, os jovens acautelados na Unidade de Internação de Saída Sistemática (Uniss) têm permissão para sair da unidade para trabalhar, estudar e resolver questões pessoais. A expectativa é que até o início do próximo semestre letivo na faculdade a liberação completa do jovem seja concedida.
*O nome foi alterado para preservar a identidade do jovem, conforme preconiza o ECA.
(C.C*)
http://www.df.gov.br/noticias/item/17418-jovem-do-sistema-socioeducativo-vai-cursar-medicina-veterin%C3%A1ria.html
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