segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

"Nosso direito de ir e vir está acabando", diz mãe de jovem morto em assalto

De A Tribuna On-line

"Nosso direito de ir e vir está acabando no País, não apenas em Praia Grande". Foi com uma dessas frases de impacto que Roseli Alves demonstrou a sua indignação diante da falta de justiça, impunidade e, principalmente, falta de mobilização da sociedade para reverter a situação em que o Brasil vive atualmente. Ela é mãe de Rafael Alves de Oliveira da Silva, de 27 anos, que foi assassinado no bairro Aviação, no início deste mês. O crime ocorreu no momento em que ele deixava a namorada em casa, de moto. De acordo com a moça, ele não reagiu e entregou a motocicleta quando os criminosos pediram, mas mesmo assim foi baleado com dois disparos. Segundo Roseli, o jovem foi morto por um adolescente de 15 anos, que permanece solto, aguardando decisão judicial.

Esse é um dos motivos do inconformismo de Roseli, pois mesmo que seja encaminhado para a Fundação Casa, ficará lá apenas três anos e depois sairá com a ficha limpa. "Se um rapaz de 15 anos pode matar alguém, tem que responder por isso de alguma forma. Não podemos ficar olhando sem fazer nada. É necessário um movimento da sociedade. Não aceito quando um policial orienta na televisão que não devemos reagir, que devemos fazer tudo o que pedem, estimulando o cara a se sentir à vontade para invadir o nosso espaço", disse a mãe de Rafael, que não aceita o fato de o filho ter perdido a vida inutilmente. "No meu entendimento, um rapaz com projetos de vida, sonhos, não pode perder a vida, porque um garoto sem nenhuma formação familiar, fruto de uma sociedade desequilibrada, se sente no direito de fazer apologia ao crime no Facebook"

Diante de uma situação aparentemente sem solução e uma sociedade vista como apática, Roseli pretende se unir "a uma minoria" para que o Congresso e os políticos façam a sua parte. Ela acredita que o cenário atual é reflexo das escolhas de uma população omissa, que vive com medo, com seus direitos bloqueados, privados. "Não somos vítimas, somos no mínimo coadjuvantes. As pessoas ficam esperando, elegem e não acompanham, não cobram mudanças. A gente vai colher exatamente aquilo que estamos plantando. Não vejo mobilização, a não ser fatos isolados. As pessoas levantam grades, deixam tudo em casa por acharem que assim vão conseguir sair na rua e não acontecer nada. O bandido está assaltando os bombeiros, entrando em hospitais. A física já comprovou, ninguém ocupa um espaço que já está ocupado. Se o bandido está tendo espaço é porque alguém está permitindo".

Para Roseli, não há dúvidas de que a mudança deve partir da sociedade. Conforme enfatizou, não adianta o Brasil ajudar outros países ou se intitular o País do Carnaval se não consegue cuidar do que está dentro, daquilo que aflige a sociedade. "Até quando vamos fazer piada de corrupção, que tudo bem explodir caixa eletrônico. Ou vamos para o combate e partimos conscientes de que alguns dos bons morrerão por um motivo que valeu a pena ou continuamos nos encolhendo, nos escondendo. A sensação de que o meu filho morreu inutilmente é o que deixa o maior vazio. Sou só uma voz, mas vou tentar me unir a outras aos que estão lutando, mas é preciso mais, uma liderança. Até quando vamos ficar reféns dessa situação?".


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