sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Geraldo Alckmin usou ameaça do PCC para se promover

Geraldo Alckmin (PSDB)
Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)

Depois de revelado um diálogo entre membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que demonstrava a insatisfação da facção criminosa com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ameaçava de morte, alguns comentários na imprensa foram na linha de que as críticas dos criminosos serviram como uma “condecoração” para o tucano – essa palavra em especial foi usada pelo colunista de Veja, Ricardo Setti.
Se estavam insatisfeitos com Alckmin, é porque ele combatia a criminalidade. Esse seria o raciocínio. A principal resposta do governador, então, foi: “Não vamos nos intimidar”, o que colocaria ainda mais força e credibilidade à sua imagem. O governador anunciou, dias depois, uma força-tarefa para investigar as ações do PCC e a agilidade para cortar sinais de telefone de presídios – algo que já deveria ter sido feito há muito tempo.
Uma declaração crucial do ex-secretário estadual de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, no entanto, desconstrói essa recente suposta boa imagem adquirida pelo chefe de governo. Em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo e foi substituído por Fernando Grella Vieira, há um ano, Ferreira Pinto afirma, ao jornal Valor Econômico, que “Alckmin está aproveitando para colher dividendos políticos com a ameaça do PCC”.
Segundo ele, a escuta de um dos membros do PCC que falava em “decretar” o governador era de conhecimento da cúpula da Segurança desde 2011 e não tem credibilidade alguma. “Esse fato não tinha credibilidade nenhuma. A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham. Tanto que o promotor passou ao largo delas. Eu não vejo uma coerência aí de alguém que exerce um cargo público da relevância que é a segurança de São Paulo”, declarou.
Para Ferreira Pinto, a mesma “fanfarronice” atribuída à declaração de Marcola, líder do PCC, de que a facção havia diminuído a taxa de homicídios no Estado – o termo foi usado pelo próprio governador, e Ferreira Pinto concorda – serve para a fala do outro, que disse que ia “decretar” – na gíria, matar – Alckmin. “Foi no mesmo contexto, em 2011. Aí vem o governo e diz ‘Não vou me intimidar’. Ele está aproveitando para colher dividendos políticos”, conclui.
O ex-secretário também afirmou que “tinha plena ciência” dessas gravações e que o governador não sabia da existência delas justamente porque o fato “não tinha credibilidade”. “Lamentável. [O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo viés político. Porque na hora que diz ‘Não vou me intimidar’, ele está também dando um “upgrade” para a facção. Está admitindo que há credibilidade numa conversa isolada”.
Segundo ele, a resposta de Geraldo Alckmin seria válida se o Ministério Público tivesse alguma gravação “em que realmente o governador estivesse sendo ameaçado de morte”. Mas o MP não usou da interceptação “porque analisou”, segundo Ferreira Pinto, “e viu que era uma declaração irresponsável”. “É como alguém dizer aqui, ‘Ah, vou matar o Obama’”, exemplifica.

http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/geraldo-alckmin-usou-ameaca-do-pcc-para-se-promover/658796/

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