São Paulo – As Pastorais da Juventude da Igreja
Católica realizam do próximo domingo (14) até o dia 21 atividades em todo o país
para defender a manutenção da maioridade penal nos moldes atuais (18 anos) –
em contraposição aos movimentos que, aproveitando os debates sobre
a reforma do Código Penal, pregam a redução da idade para
criminalização dos jovens. Para Anderson Gonçalves de Brito, membro da
coordenação da Pastoral de São Miguel Paulista e do Conselho
Municipal da Juventude da cidade de São Paulo, os meios de
comunicação levam a sociedade a ter uma visão equivocada da
participação de adolescentes e jovens em delitos e crimes.
“As pessoas acreditam que a redução da
maioridade penal resolverá o problema da violência. Para nós, a
solução passa pela efetivação de políticas públicas voltadas à
juventude, como a melhoria do acesso à educação, à saúde, ao
emprego e ao lazer. Para nós, estas políticas permitirão a tão
sonhada mudança nos índices de criminalidade que envolve a
juventude. Por isso, as Pastorais da Juventude não temem em se
posicionar contrárias à redução da maioridade penal”, afirma.
Para Celso Santos Júnior, assessor da Pastoral da
Juventude Estudantil, o debate sobre a redução da maioridade sempre
vem à tona quando ocorre algum delito cometido por um jovem menor de
18 anos, principalmente se a vítima for da classe média ou alta. “A
imprensa entra em ação e coloca o debate para a sociedade de forma
sensacionalista”, contesta.
Santos Júnior diz ainda que os direitos previstos
na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
não são cumpridos. “Antes de propor a redução deveriam ser
garantidos esses direitos. Isso é a premissa para o debate sobre
segurança e a redução da violência.”
Marcelo Naves, da Pastoral Carcerária e membro do
Instituto Paulista de Juventude, diz que jovens e adolescentes sofrem
mais violência do que cometem. “Tirando os casos isolados, que
ganham repercussão na mídia, a maior parte dos atos contra a vida
não são cometidos pelos adolescentes. Eles se envolvem em roubos e
furtos, crimes contra o patrimônio. Por isso, não se justifica a
redução da maioridade penal e o encarceramento.”
Naves lembra que já existem medidas
sócio-educativas para adolescentes que cometem atos infracionais. “O
problema não é a falta de lei, é a falta de cumprimento dela. O
ECA, por exemplo, não foi totalmente colocado em prática até
hoje.”
Para ele, a redução da violência e da
criminalidade é um problema complexo e histórico que precisa de
tempo para ser solucionado. “São necessárias diversas medidas,
começando pela transformação do sistema penal, pelo fim do
encarceramento em massa, pelo desenvolvimento de políticas públicas
específicas para a juventude. Querem uma solução imediata, mas a
resposta não é imediata.”
Educação
No último sábado (6), movimentos pró e contra a
redução da maioridade penal participaram de manifestações na
avenida Paulista e nas imediações da rua Augusta, centro de São
Paulo. Um ato organizado por mais de 50 entidades
distribuiu panfletos com as “18 razões para a não redução da
maioridade penal”.
“Para diminuir a violência, ao invés de
reduzir a maioridade penal, é preciso colocar em prática diversas
políticas públicas em diferentes campos”, diz Thaís Chita, da
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), uma das
organizadoras da atividade.
Enquanto isso, o grupo pró-redução levou faixas
e fotos de vítimas da violência cometida por adolescentes, coletava
assinaturas para um plebiscito sobre o tema. Os dois grupos, no entanto, têm em comum a defesa
da melhoria da educação e do sistema penitenciário como forma de
reduzir a violência.
“O sistema carcerário está precário. Ele
precisa promover a ressocialização. Além disso, é preciso
trabalhar a educação das crianças. Não podemos ter uma só
proposta”, defende a deputada federal Keiko Ota (PSB-SP), autora da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 228/2012 que altera o
artigo 228 da Carta, para reduzir a idade prevista
para imputabilidade penal para 16 anos. Keiko teve seu filho Ives Ota
assassinado aos 8 anos. Os assassinos de Ives (adultos), foram
julgados e condenados a 43 anos de detenção. Desde então, Keiko Ota passou a lutar pela prisão perpétua para crimes hediondos.
“É preciso melhorar a qualidade da educação,
ampliar o acesso e encontrar formas para reduzir a evasão escolar.
Os índices de abandono escolar são maiores justamente entre os
jovens negros, das classes menos favorecidas e moradores da
periferia, justamente os que são mais envolvidos em delitos e sofrem
com a ação de grupos de extermínio e o tráfico de drogas”,
diz Celso dos Santos Júnior.
Para Rodrigo Medeiros, da ONG Ação Educativa, a
discussão não está clara e a mídia trata o tema de forma
superficial. “São utilizados casos isolados como se todos os
adolescentes e jovens estivessem envolvidos com a violência e
cometessem delitos. Mas o número de adolescentes que cometem
delitos não chega a 0,5% do total. Isso causa uma grande confusão
que faz com que o tema seja tratado como caso de polícia. Na verdade,
é uma questão de políticas públicas de saúde, de educação, de
cultura, esportes e lazer as quais os jovens já têm direito e não
são cumpridas pelo poder público”, analisa.
http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2013/04/juventude-catolica-promove-atos-contra-reducao-da-maioridade-penal
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