O promotor da vara da Infância e da Juventude de São Paulo, Thales Cezar de Oliveira, avalia que o projeto de lei proposto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) -que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)- descaracteriza a medida de internação de jovens infratores.
“Se esse texto passar, vai descaracaterizar a medida de internação,
deixá-la mais flexível. Ele coloca que o jovem internado pode sair para
trabalhar e estudar, mas isso já é previsto no regime de semi-liberdade
da Fundação Casa. O projeto transforma uma medida de internação em
semi-liberdade, que já existe”, explicou o promotor.
Além disso, ele considera que a Fundação Casa não tem condições
estruturais para absorver o aumento da pena previsto no projeto. ”Hoje a
fundação já trabalha no limite, não tem vaga sobrando, e isso porque
atualmente o jovem fica, em média, apenas um ano internado. Se aumentar
essa pena por até oito anos, em três anos a população vai quase
triplicar e vai gerar superlotação em cascata e piorar o atendimento até
dos mais jovens, de 14, 15 anos”, afirmou Oliveira.
O promotor também afirmou que dificilmente o governo conseguirá
preparar a Fundação Casa para atender o novo projeto em tempo. ”Falando
em termos históricos, não especificamente do governo Alckmin, o
Ministério Público sempre teve que entrar em ação para a construção de
novas unidades, nunca foi espontâneo, sempre foi cobrado”.
Outro problema apontado foi a não inclusão do tráfico de drogas. ”Um
jovem pode ser apreendido por violência ou ameaça sob pressão, após o
terceiro ato grave ou descumprimento de medida anterior. Não há
especificação para tráfico de drogas que é um grande problema. O projeto
acrescenta crime hediondo mas perde a oportunidade de cuidar do
tráfico”, disse o promotor.
Oliveira também criticou o modo como foi elaborado o texto. ”Eu acho
que o governo poderia ter ouvido as pessoas que militam na área da
infância e da juventude no dia a dia, como o Ministério Público e a
Defensoria. Pelo que me consta, nenhum de nós que trabalhamos com isso
sequer foi ouvido. Temos juízes e promotores aqui que têm essa
experiência prática, do dia a dia, há 20 anos”, afirmou Oliveira, que
trabalha na vara há 18 anos.
O texto do projeto do governador foi elaborado por uma equipe formada por secretários e técnicos da secretaria.
http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2013/04/20/fundacao-casa-nao-tem-capacidade-para-suportar-pena-maior-para-adolescentes-diz-promotor/
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