sexta-feira, 5 de abril de 2013
“Crianças usam armas... Não brincam em serviço” Jovens que praticam atos infracionais são os indiciados pela delegada Jane Cristina
“Crianças usam armas... Não brincam em serviço”
Jovens que praticam atos infracionais são os indiciados pela delegada Jane Cristina
DIÁRIO DA MANHÃ
EDSON COSTA
“O trabalho é duro! E perigoso. Mas não ficamos assustadas diante da brutalidade. Duelamos com drogadas, vadios e outros tipos.” Esse foi o desabafo da delegada de Polícia Civil Jane Cristina G. Melo. Ela é adjunta da Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), especializada na violência empregada por adolescentes de alta periculosidade. E Jane não nega que menores infratores têm aumentado de maneira assustadora, apesar da eficiência policial. Aponta que, em 2011, foram registrados 2.688 Boletins de Ocorrências, com 37 homicídios. No ano passado foram anotados 2.197 Boletins de Ocorrências. Foram apreendidos 2.307 adolescentes e encaminhados aos Poder Judiciário.
O que é, na verdade, um adolescente infrator? Para especialistas, eles surgem da falta de estrutura familiar, de famílias desalinhadas, da falta de escolaridade e da falta de perspectivas, além da falta de políticas públicas. Se perguntarem à um policial que lida com adolescentes violentos como ele enquadra esse tipo de menor a resposta será mais ou menos essa: “Um adoidado, um desatinado, imprudente, estouvado, leviano, um garotão sem eira e nem beira, que se julga acima da lei que parece protegê-lo e, às vezes, o aplaude liberando-o para que cometa novos delitos”.
Jane não concorda com todos os apelidos, mas não esconde que, muitas vezes, o menor infrator é encaminhado ao Poder Judiciário “e dois ou três dias depois a PM aparece com ele novamente apreendido. Mas estamos aqui no Depai para cumprir a nossa missão. Do nosso lado a peteca não cai”. E ela continua: “O que dói é ver crianças empunhando arma de fogo. E não brincam em serviço”.
ELA
Delegada da Polícia Civil há dois anos, , trabalha como adjunta da especializada na Rua 72, Quadra A, Lote A, no Parque da Criança, Jardim Goiás. Jane Cristina G. Melo, de alta capacidade e inteligência, é considerada de fina educação até quando lida com adolescentes de alta periculosidade. Com eles é diferente. Jane trabalhou no entorno de Brasília, Trindade, Iporá, Corregedoria da Polícia Civil, Aparecida de Goiânia e Delegacia da Mulher.
Entrevista - Jane Cristina G. Melo
Diário da Manhã: Na semana passada a senhora lidou com um adolescente danado de violento. Não nega ter cometido homicídio e alega que vai continuar no crime. E que a cadeia somente vai deixá-lo pior...
Jane: É um menino! De 12 anos! Mais perigoso que uma cobra jararaca com dor de dente. Confessa sorridente ter matado seu rival com tiros no meio da cara. Não nega que vai continuar no crime. E que cadeia só faz corromper ainda mais o detido. Não nega ter recebido inúmeros convites para fazer parte de gangues.
DM: Adolescentes mesmo não sendo de origem humilde e, na verdade, até de famílias abastadas estão partindo para os crimes diversificados e cada vez mais violentos. A culpa é somente das drogas?
Jane: Em parte! A droga aumenta a coragem do adolescente já com tendência criminosa. Existe uma minoria cujos pais ou responsáveis não impuseram limites a eles. Certos dias, as celas aqui na Depai ficam lotadas. E todos eles não ficam intimidados por saberem que a cadeia é somente para um ligeiro descanso.
DM: A senhora é respeitada? Nunca foi ameaçada?
Jane: São jovens violentos! Mas não são doidos. Aqui eu cumpro a lei. Faço a minha parte. O restante é com a Justiça. Do meu lado a peteca não cai. Aqui entra todo tipo de adolescente. Porém, sou respeitada e alguns até me chamam de ‘tia’. Tenho uma equipe também de respeito e de alto gabarito.
DM: Aqui reside o desassossego. A senhora nunca pediu para sair?
Jane: Nunca faltei ao trabalho por medo ou negligência. O perigo existe. Mas sou parte do perigo. Cumpro fielmente o meu trabalho.
DM: Quantos crimes foram cometidos por adolescentes no ano passado? E qual o tipo de crime que mais impressiona?
Jane: Em 2012 foram registrados 2.197 Boletins de Ocorrências. Foram apreendidos 2.307 adolescentes, e encaminhados ao Poder Judiciário 1860 Autos de Investigação. O que mais assusta? O crime de homicídio praticado, muitas vezes, com uma frieza impressionante.
DM: O índice maior de crimes foi maior que em 2011? Quantas vítimas perderam a vida em 2011? E em 2012?
Jane: Em 2011 foram registrados 2.688 Boletins de Ocorrências. Portanto, um número maior que em 2012. Com relação a homicídios, em 2011, foram registrados 37 crimes de morte. No ano passado registramos 26.
DM: A violência sexual também existe? Adolescentes costumam agredir os seus genitores?
Jane: A violência sexual, em 2011, foi registrada em 53 casos, em 2012 foram registados 48 casos. Não temos estatísticas relacionadas a ameaças ou lesão corporal especificamente quando a vítima é o genitor ou genitora.
DM: Falta de estrutura familiar, falta de religião. Sabe de algum colégio que ministra aulas de religião?
Jane: Com certeza falta de estrutura familiar e religião também. Com relação aos colégios quer ministram aulas de religião, não temos estatísticas sobre isso.
DM: Como os adolescentes apreendidos são levados para a Depai? Por PMs ou existe blitz especializada?
Jane: Os adolescentes são trazidos à Depai pela polícia militar ou pelo agente da delegacia que lavrou flagrante de apreensão fora do horário do expediente da Depai. A Depai participa de operações ficando com apoio na própria delegacia.
DM: Já houve punição severa no Judiciário? Ou o adolescente é colocado na rua de novo?
Jane Quanto as punições, não temos acesso à sentença da juíza da Vara, essa estatística deve ser verificada junto ao Poder Judiciário.
DM: Quais os crimes preferidos pelos adolescentes?
Jane: Os crimes preferidos são: roubo qualificado, falta de habilitação, tráfico, furto, uso de drogas, lesão corporal, ameaça.
DM: Adolescentes formam bandos, participam de quadrilhas para o roubo de veículos? Ou para assaltos em comércios? São perigosos? Podem matar em caso de reação?
Jane: Normalmente os adolescentes praticam atos infracionais de roubo de veículo em dupla ou mais. Raramente sozinhos. Quanto ao ato infracional de furto de veículo, tipo motocicleta, o adolescente pratica o ato normalmente sozinho. Com relação a roubos em comércio, sempre atuam em dupla ou mais. Os adolescentes que praticam roubos, na grande maioria, são perigosos. No caso de homicídios vinculados a dívidas de drogas, eles matam para manterem o poder.
http://dm.com.br/texto/104810-acrianaas-usam-armas-nao-brincam-em-serviaoa
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