segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Menores no crime: perigosos e impunes

A participação de menores em crimes violentos nas últimas semanas no Rio, como na morte de sete jovens na Favela da Chatuba, em Nilópolis, ou mesmo o assassinato de um taxista na Linha Amarela, há duas semanas, reacendeu o debate sobre a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Criada há 22 anos, a legislação que trata de medidas socioeducativas para menores em conflito com a lei estaria desatualizada, sem condições de atender às novas demandas?
Somente no primeiro semestre deste ano, 2.975 menores foram apreendidos pela polícia envolvidos em infrações de todo tipo. O número representa um aumento de 52,5% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme revelou neste domingo Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, diz que facções criminosas usam cada vez mais adolescentes, especialmente no tráfico, seja em áreas pacificadas ou não. Para o secretário, essa tática acontece porque os menores, quando são apreendidos, ficam pouco tempo cumprindo medidas socioeducativas:
- Mesmo em casos de assassinatos ou crimes hediondos, no máximo, o jovem ficará detido por algum tempo e voltará às ruas, muitas vezes retornando ao crime. Além disso, vemos cada vez mais adolescentes em posições de poder, seja como gerentes de pontos de drogas, seja como soldados do tráfico, com pistolas ou fuzis nas mãos. Outro dado que chama a atenção é que esses menores se drogam muito, inclusive com uso regular de crack, o que afeta seus comportamentos, tornando-os mais agressivos e inconsequentes.
Procurador defende internação
Procurador de Justiça, que já atuou como promotor da Vara da Infância e da Juventude, Marcio Mothé Fernandes defende a revisão do ECA. Segundo ele, a realidade hoje é bem diferente de quando o estatuto foi criado, e não prevê, por exemplo, a internação de adolescentes por tráfico de drogas.
- Há aspectos que precisam ser rediscutidos, como a internação compulsória dos dependentes de crack e o tempo das medidas para os menores infratores. Mas tem um aspecto mais grave, que é a impossibilidade de o adolescente apreendido por tráfico de drogas ficar internado - diz ele.
Mothé lembra que uma súmula do Superior Tribunal de Justiça, editada em agosto, estabelece que a prática do tráfico não é determinante para que o menor seja levado para internação nos centros de ressocialização. A medida foi publicada porque o ECA não trata de internações dos jovens por tráfico.
- Quando o ECA foi elaborado, o artigo 122, que lista os motivos pelos quais o menor poderia ser internado, não incluía o tráfico. Isso deveria ser reformulado. Não há um instrumento jurídico para punir infratores. Os traficantes arregimentam adolescentes com o discurso de que são inimputáveis. Isso é muito urgente. Mães entregam os filhos à polícia para afastá-los do crime, mas o estado não pode internar pois não existe previsão legal - diz.
Tramitam no Senado três Propostas de Emenda Constitucional (PEC) que propõem a redução da maioridade penal, como forma de reduzir a criminalidade entre adolescentes. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) é um dos autores de uma das PECs. Para ele, o estatuto precisa ser revisto:
- Acho que o período máximo de internação poderia ser maior. Há projetos com esse intuito. Da mesma forma, há alguns outros pontos que precisam ser revistos. Mas acho que a estrutura do texto funciona.
A PEC 33/2012, proposta por Nunes, diferencia-se das demais porque mantém a inimputabilidade prevista no ECA, mas permite que a Justiça, provocada pelo Ministério Público, abra exceções. Segundo ele, a radicalização presente em outras propostas que passaram pela Casa desvirtuaram o debate e inviabilizaram qualquer acordo sobre a redução da maioridade penal.
A discussão sobre a redução da maioridade penal ou a revisão do ECA não é uma unanimidade. A socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, é contra. Para ela, levar mais adolescentes à carceragem não reduzirá a criminalidade. Julita destaca que os jovens também são as maiores vítimas do crime. Segundo ela, os homicídios são a principal causa de morte entre jovens de 12 e 18 anos (44% dos casos):
- A prisão é uma forma cara de tornar as pessoas piores. Os jovens envolvidos com o crime precisam ser tratados nos termos estabelecidos no ECA. O estado precisa investir na prevenção da violência entre os jovens. Eles precisam é de educação e trabalho.

http://br.noticias.yahoo.com/menores-crime-perigosos-impunes-024500998.html

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