domingo, 26 de agosto de 2012

Tráfico é principal infração entre adolescentes em SP e Minas

SÃO PAULO - O envolvimento cada vez maior de menores infratores com o tráfico de drogas tem mudado uma realidade de décadas no país. Casos de roubo e furto, até então a principal causa de apreensão de adolescentes, estão deixando de ser vilões. Em São Paulo e Minas, o tráfico já é o ato infracional mais cometido por jovens de até 18 anos que dão entrada em instituições públicas. Em estados como Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio, o tráfico avança em ritmo acelerado, e a inversão nas estatísticas é questão de tempo.

O problema ganhou notoriedade nacional na semana passada, no Superior Tribunal de Justiça. Segundo os ministros, adolescentes não poderão mais ser privados de liberdade se detidos por tráfico pela primeira vez. A atitude, dizem, fere o Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê internação só quando o delito é praticado com violência ou grave ameaça, se o menor for reincidente ou já tiver descumprido medida disciplinar.

- Muitos dos jovens não são criminosos, têm alto potencial de recuperação. Mas o sistema de internação não está preparado - diz o vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e Adolescente da OAB, Ariel de Castro Alves.

Para menores, traficar é ganhar dinheiro fácil

Dados reunidos pelo GLOBO nos estados com maior população de adolescentes em conflito com a lei mostram a escalada dos números de apreendidos por tráfico. São Paulo apresenta o maior registro. Em julho, a infração foi causa de 42% das apreensões de menores (3.717). Em 2006, o índice era de 21%.

Num beco perto da casa onde vivia com o pai e dois irmãos, num bairro pobre de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, J., aos 16 anos, foi flagrado pela polícia, pela primeira vez, vendendo maconha e cocaína. Ficou 30 dias internado em uma das unidades para adolescentes infratores de São Paulo. De volta à casa, apesar do susto, a tentação por dinheiro fácil falou mais alto, e ele voltou a traficar. Quatro meses depois, estava de novo internado. Reincidente, a punição foi mais dura: nove meses sem liberdade.

Jovens moram perto de bocas

Em Minas, os números referentes à capital são preocupantes. Nos últimos três anos, saltaram de 19% para 27%, no topo das estatísticas, segundo relatório anual do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente de Ato Infracional. No Rio, apesar de o delito ocupar a terceira posição no ranking das infrações - perdendo para roubo e furto -, os números são parecidos. Em 2010, correspondia a 21%. Neste ano, está em 26%.

O principal motivo para os jovens no tráfico, diz a promotora da Vara Infracional da Infância do Rio, Alexandra Carvalho Seres, é que se tornou uma opção de trabalho:

- Eles entendem o tráfico como um crime menor. Sabem que pegar numa arma e roubar é crime, mas o tráfico, na visão da maioria, é apenas uma forma de ganhar dinheiro fácil. Eles não têm necessariamente perfil criminoso.

A maioria dos jovens apreendidos por tráfico tem entre 15 e 17 anos, convive perto de bocas de venda de entorpecentes e é usuária de drogas.

Vaidosa, S. começou a traficar para ter o próprio dinheiro e comprar o que quisesse. A maior parte, gastou em roupas. Grávida e aos 14 anos, só percebeu que tinha sido detida pela polícia vendendo droga quando já estava na delegacia. O flagrante aconteceu a algumas quadras da casa onde morava com a mãe, irmãos e sobrinhos, no ABC.

- Estava muito louca. Não entendi direito na hora o que estava acontecendo - lembra a adolescente, hoje com 15 anos, mãe de um recém-nascido e em liberdade assistida.

Não há estatísticas nacionais do número de adolescentes apreendidos por tráfico.

http://br.noticias.yahoo.com/tr%C3%A1fico-%C3%A9-principal-infra%C3%A7%C3%A3o-adolescentes-sp-minas-221100323.html

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